A sustentabilidade na construção civil é um tema de extrema importância atual, já que a indústria da construção, umas das indústrias em constante ascensão causa um grande impacto ambiental ao longo de sua cadeia produtiva.
Desde 1992, quando foi criada a Agenda 21 Global durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – a famosa Rio 92 –, fala-se muito em desenvolvimento sustentável. Em 40 capítulos, o documento assinado por 179 países mostra como conciliar métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica em prol de um mundo mais verde.
Quase trinta anos depois, o assunto mais do que nunca está em discussão, sobretudo no setor da construção civil. Tanto que em 2014 o Ministério do Meio Ambiente encomendou o estudo técnico “Aspectos da Construção Sustentável no Brasil e Promoção de Políticas Públicas”, com o intuito de saber como avançar a sustentabilidade na construção civil, setor que tem alto consumo de recursos naturais e gera mais de 50% dos resíduos sólidos, segundo o Conselho Internacional da Construção (CIB).
A pesquisa também traz os principais desafios do setor, como ampliar o conhecimento sobre construção sustentável, desenvolver capacitações técnicas dos envolvidos, demandar legislação e regulamentos específicos, entre outros.
No dia a dia, como isso funciona na prática? A equipe da Compacto procura, a cada obra, incorporar soluções sustentáveis em suas obras por menor que seja. Por exemplo, quando reformamos a Huntington Medicina Reprodutiva Vila Clementino, na cidade de São Paulo, todo o material de obra não foi descartado e, sim, separado em três caixotes: metal, madeira e papel. Depois, entregamos aos catadores de material reciclável, que fazem a triagem, o armazenamento e também a venda desses resíduos.
Sempre de olho no mercado, decidimos também adotar a lã de pet, usada para revestimento como isolante termoacústico nas paredes de construção seca tipo drywall. Além de ser mais barata que a lã de rocha – que contamina muito mais o meio ambiente –, é reciclável e sustentável, pois “tira de cena” várias garrafas de plástico, que demoram até 200 anos para cada uma se decompor.
Atitudes simples assim são alguns exemplos possíveis de ações em canteiros de obras, e devem fazer parte do dia-a-dia de todas as construções sempre que possível. Mas é claro que o universo da sustentabilidade é muito maior do que isso, mas qualquer ação é um passo que estamos dando a favor da sustentabilidade.
Outra experiência gratificante foi executar as duas unidades da Starbucks Coffee dentro do Aeroporto Internacional de Guarulhos. Juntas, elas somam 350 metros quadrados e têm o certificado LEED – Leadership in Energy and Environmental Design, o que valoriza o imóvel para uma futura revenda ou arrendamento.
Nossa equipe seguiu item por item da planilha estabelecida pela certificação internacional. Entre outros benefícios, estão a diminuição dos custos operacionais e dos riscos regulatórios; melhor capacitação profissional; aumento da satisfação e bem-estar dos trabalhadores; incentivo a fornecedores com maiores responsabilidades socioambientais; uso racional e redução da extração dos recursos naturais; redução do consumo de água e energia; uso de materiais e tecnologias de baixo impacto ambiental; redução, tratamento e reúso dos resíduos da construção e operação; e o melhor uma implantação consciente e ordenada.
O uso das certificações provoca também a busca por inovação no quesito matéria-prima. Há cerca de um ano e meio o site ArchDaily Brasil publicou um artigo interessante falando de materiais que podem mudar – para melhor! – a indústria da construção, como cimento com capacidade de gerar luz, madeira translúcida, hidrocerâmica, tijolos que absorvem a poluição. Será que vão vingar? Não se sabe e com certeza, enquanto você lê este artigo, mais alguma pesquisa está sendo desenvolvida para criar uma solução “verde” a fim de diminuir o impacto da construção no meio ambiente.
O que toda a cadeia da construção civil não pode fazer é ignorar a necessidade de agir em prol da sustentabilidade. Não é fácil colocar isso em prática, até mesmo pela falta de hábito e de conhecimento. Sem falar que muitas vezes ser “ambientalmente correto” infla o orçamento, tornando a obra impraticável.
Algumas exigências das certificações também precisam ser reavaliadas. Exemplo? A máscara usada durante as obras. Ela parece sufocar o trabalhador ao invés de protegê-lo. Detalhes assim, porém, só podem ser melhorados se mais e mais canteiros de obras exercitarem a sustentabilidade e oferecerem soluções para que os resultados ambientais, sociais e financeiros sejam alcançados.
Nós, do setor da construção civil, temos de nos ouvir mais, compartilhar experiências e aprendizados, para juntos atuarmos de forma responsável e produtiva.