Com o passar do tempo, é natural que a deterioração de edificações aconteça. Mas, o que fazer com tamanha quantidade de edifícios antigos e históricos muitas vezes inutilizados, com tecnologia ultrapassada, em péssimas condições que impossibilitam seu uso? Diante deste dilema, surgiu o retrofit como uma opção para trazer uma nova funcionalidade a estas construções, que muitas vezes não possuíam nenhum uso, mas contribuem diretamente com sua beleza arquitetônica e conta uma história.
Retrofit é uma técnica construtiva que vem sendo usada no Brasil desde 2000 já é colocada em prática nos Estados Unidos e na Europa há mais 50 anos devido a uma legislação bem rígida, que não permite que construções históricas – prédios, casas, salas, praças, pontes etc. – sejam modificadas a ponto de serem descaracterizadas. Ícones da cidade americana de Nova York – como o Rockefeller Center e o Empire State Building – já passaram por esse processo batizado de retrofit: retro vem do latim “movimentar-se para trás” e fit do inglês adaptação, ajuste.
Ah! Eles passaram por uma reforma? Não, o retrofit tem o objetivo de revitalizar espaços e lugares públicos antigos – principalmente os que foram tombados –, conservando seus traços construtivos e arquitetônicos originais, aumentando sua vida útil com a incorporação de tecnologias modernas e materiais sustentáveis e tecnicamente atualizados. Dessa forma, o edifício ou o casarão, por exemplo, se tornam mais confortáveis, seguros e funcionais para os usuários, mantendo ainda a viabilidade econômica para o proprietário do imóvel.
Com essa solução, preserva-se a arquitetura da cidade para que a “história” daquela rua ou avenida não se perca com demolições desnecessárias de edificações. Afinal, em muitos municípios o boom imobiliário “cobiça” lugares estratégicos nos grandes centros urbanos ou à beira-mar, em busca de novos e rentáveis negócios.
Em geral, para que haja necessidade dessa modernização, as construções devem ter pelo menos de 30 a 40 anos. Qualquer edifício, residencial ou comercial, tombado ou não, pode passar por um retrofit, com atenção especial às partes hidráulicas e elétricas, que geralmente são as que mais se deterioram com o tempo. Porém, antes de arregaçar as mangas, é preciso um estudo detalhado do projeto para planejar a obra, levando-se em consideração a valorização do imóvel, sua localização, a conservação do patrimônio e uma possível “troca” de funcionalidade. Isto é, uma escola pode virar um museu, uma fábrica pode se tornar um centro cultural e esportivo.
Foi o que aconteceu com o prédio do antigo Liceu de Artes e Ofícios, que hoje abriga a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Durante cinco anos – de 1993 a 1998, o edifício projetado pelo escritório de Ramos de Azevedo entre 1897 e 1900 sofreu a “intervenção” de três arquitetos: Paulo Mendes da Rocha, Eduardo Colonelli e Welliton Torres.
O retrofit fez o então “invisível” edifício neoclássico “aparecer”, valorizando sua arquitetura externa original, naturalmente desgastada pelo tempo e pela poluição ocasionada pelo intenso tráfego de veículos na Avenida Tiradentes, na capital paulista. Por dentro, houve a instalação de uma nova rede elétrica e sanitária, e também de elevadores para atender às normas de acessibilidade. E a utilização de um telhado com vidros levou a iluminação natural para dentro da construção.
Outro exemplo bem-sucedido de retrofit é o do conhecido Sesc Pompeia. A arquiteta italiana Lina Bo Bardi, em1977, concebeu o projeto que transformou duas antigas fábricas de tambores num centro cultural e esportivo bastante frequentado desde sua inauguração, em 1982. O novo espaço teve seus galpões reorganizados e com novas funcionalidades, como um restaurante, biblioteca, área de convivência e teatro. Do lado de fora, observem: a “fábrica” continua sendo fábrica.
Assim, patrimônios históricos tombados, edifícios importantes, como a sede de uma empresa, por exemplo, e imóveis bem localizados são fortes candidatos ao retrofit, pois certamente terão seu valor imobiliário aumentado. E, muitas vezes optar por essa técnica construtiva é a solução mais rápida para atender aos prazos do cliente, que não tem como esperar a obra começar do zero.
Outras vantagens do retrofit? O melhor aproveitamento dos espaços de construções antigas, pois os imóveis tinham ambientes mais amplos, assim como pé-direito duplo ou às vezes triplo, o que facilita a iluminação e ventilação naturais tão desejadas em época de sustentabilidade.
A Compacto Engenharia tem se dedicado a projetos de arquitetura hospitalar e de saúde e nesse segmento é muito comum as empresas possuírem identidade proprietária. Isto é, são projetos com layouts, fluxos, cores, acabamentos, revestimentos, mobiliários, comunicação visual e de sinalização bem definidos que exprime claramente a sua “mensagem”.
Todos esses elementos facilitam a identificação por parte do público de que ele está em uma rede onde pode contar com a mesma qualidade de atendimento das outras unidades. E isso é muito importante para o sucesso do negócio.
É o que acontece com o dr. consulta, cliente da Compacto Engenharia, que possui uma identidade proprietária forte e clara, mesmo sendo clean e básica. Tudo começa pela vitrine transparente, permitindo que quem caminha pela rua ou pelo hall de um shopping veja tudo o que acontece lá dentro: pode-se observar o espaço e estabelecer o primeiro contato visual de identificação mesmo sem entrar.
Para manter essa identidade em sua mais recente unidade inaugurada, a da Avenida Rebouças, tivemos de abrir mão das quatro colunas gregas que existiam na fachada do imóvel, assim como da escada na sala principal, pois fugiam do padrão adotado pela rede de consultórios. Nesse caso, fica difícil investir no retrofit.
Mas, se o imóvel é um patrimônio tombado e só haverá uma única unidade, a saída é mesmo o retrofit. Vale citar o Laboratório de Ressonância Magnética em Neurorradiologia, projeto da acr arquitetura, ligado ao Departamento de Radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Denominado de LIM 44 (Laboratório de Investigação Médica no. 44), o espaço foi “retrofitado” seguindo as características originais da edificação 1913, que foi tombada em 1981. E o resultado ficou fantástico!